Cirurgia bariátrica para o diabetes e eletrodo contra a enxaqueca estão no topo da lista
Recentemente, o centro médico acadêmico norte-americano Cleveland Clinic divulgou uma lista com 10 entre 250 inovações médicas que serão peça chave no tratamento e na prevenção de doenças em 2013. Médicos e pesquisadores elegeram as descobertas de maior impacto, sendo um dos principais critérios de escolha o número de pessoas que seriam beneficiadas com o produto ou procedimento. Embora a lista tenha 10 itens, um deles faz referência a um sistema de saúde que não se aplicaria ao Brasil e, por isso, ficou de fora da nossa análise. Para saber mais sobre as outras nove inovações, entretanto, conversamos com uma equipe multidisciplinar de especialistas que avaliou o custo-benefício de cada um.
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Cirurgia bariátrica para controlar o diabetes
O número de pessoas diagnosticadas com diabetes vem crescendo no Brasil. "Dados recentes do IBGE mostram mais de 12 milhões de portadores da doença no país", alerta o cirurgião Marçal Rossi, vice-presidente executivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Por conta do peso, entretanto, muitos pacientes não conseguem controlar a doença apenas com mudanças de hábito. Para elas, a solução pode ser acirurgia bariátrica, conhecida popularmente como cirurgia de redução do estômago. "Ela é revolucionária porque independe do peso do paciente, que pode ter tanto do sobrepeso quanto obesidade mórbida", explica. De acordo com o especialista, o procedimento melhora não só os níveis glicêmicos do paciente, como também as taxas de colesterol e triglicerídeos e a pressão arterial, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares. O procedimento já é realizado no Brasil e também é feito pelo SUS.
Eletrodo para tratar enxaqueca
"Hoje, o melhor tratamento para a enxaqueca se resume à prevenção, com a adoção de medicamentos para evitar dores de cabeça, além de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios e uma dieta equilibrada", afirma a neurologista Célia Roesler, membro da Academia Brasileira de Neurologia. Ainda assim, crises podem ser frequentes. Mas se depender de uma nova terapia baseada na implantação de um dispositivo na gengiva, a história terá um novo desfecho. Como se fosse um controle remoto, o dispositivo é ativado pelo próprio paciente e passa a emitir pequenos choques elétricos que interrompem as dores de cabeça em cerca de 10 minutos. Estudos apontaram resposta positiva em quase 70% dos casos. "Por ser minimamente invasiva, acredito que será uma opção promissora para quem sofre de enxaqueca", complementa a especialista. O tratamento com o aparelho, no entanto, ainda não está disponível no Brasil.
Identificação de bactérias em tempo recorde
De acordo com o infectologista Alexandre Piva Sobrinho, professor da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), exames de cultura de bactérias levam de dois a três dias para ficarem prontos. "Durante esse tempo, tratamos o paciente empiricamente, ou seja, levando em conta a prevalência das doenças infecciosas da região em que ele vive", afirma. O método, entretanto, nem sempre funciona e, muitas vezes, dependendo do grau da infecção, o paciente pode morrer. Por isso, um novo método de identificação de bactérias em poucos minutos será extremamente importante. "Sabendo o nome do agente, podemos fornecer o antibiótico ideal para o problema, aumentando as chances de cura", explica. O especialista conta que alguns hospitais brasileiros contam com um aparelho capaz de identificar bactérias em duas ou três horas, mas aponta que cada minuto é precioso dependendo da infecção.
Novos remédios para câncer de próstata em estágio avançado
Classificado como um câncer hormônio-dependente, o câncer de próstataem estágio avançado é tratado com o bloqueio da função hormonal masculina. "Tal método foi descrito nos anos 40 e não apresentou qualquer novidade até 2004", aponta o urologista Marcus Sadi, da Sociedade Brasileira de Urologia. Nos dois últimos anos, então, mereceram destaque cinco novas drogas: enzalutamida, sipuleucel-T, denosumab, abiraterona e cabazitaxel. De acordo com o especialista, o principal benefício do surgimento desses novos medicamentos é a possibilidade de aumentar a sobrevida dos pacientes que, até pouco tempo atrás, era de cerca de 18 meses. Hoje, a não resposta à quimioterapia com determinada droga não esgota as possibilidades de tratamento, o que aumenta as chances de cura e controle do câncer.
Dispositivo portátil para diagnóstico de melanoma
Rejeitado anteriormente pela Food and Drug Administration (FDA), órgão norte-americano que controla os alimentos e medicamentos do país, um novo dispositivo portátil feito para identificar melanomas, um tipo de câncer de pele, foi, enfim, aprovado. Colocado sobre a pele, ele visualiza a estrutura de um vaso lesionado, utiliza um sistema de algoritmos e compara a imagem com outras 10.000 fotos de doenças de pele. Em menos de um minuto, o profissional já obtém o resultado. "Apesar do avanço, foi bastante discutido em Congressos se o aparelho não deixaria a experiência do médico em segundo plano", aponta o dermatologista Marcus Maia, coordenador do Programa Nacional de Controle do Câncer da Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Além disso, o especialista afirma que o aluguel do aparelho é extremamente caro e que cada análise de manchas ou pintas é cobrado separadamente. "Isso torna a análise de pacientes com muitas lesões inviável", complementa.
Cirurgia de catarata com laser
"A cirurgia de catarata é o procedimento mais realizado no mundo", afirma o oftalmologista Renato Ambrósio Jr., presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa. Embora seja um procedimento seguro, com o uso do laser as incisões se tornam mais precisas, o que reduz o risco de inflamações e ainda facilita a implantação de uma nova lente no olho. "O laser já é amplamente usado na cirurgia de córnea, então, não deve levar muito tempo até que faça parte da rotina do cirurgião que está tratando a catarata", explica.
Melhor aproveitamento dos pulmões doados para transplantes
De acordo com o cirurgião-torácico José Camargo, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica, atualmente são aproveitados apenas 15% dos pulmões doados para transplantes. "Por ser um órgão que entra em contato direto com o meio ambiente por meio da respiração, ele tem um risco maior de contaminação e de retenção de líquidos, o que dificulta seu aproveitamento", afirma. Entretanto, com a técnica de perfusão pulmonar ex-vivo (fora do corpo), será possível reverter essa situação. Ela consiste na colocação dos pulmões do doador em uma câmara com a capacidade de reparar os órgãos e ainda secar o excesso de líquido neles presente. A adoção do método é importante principalmente porque quem depende desse tipo detransplante costuma ter sobrevida de, no máximo, um ano e meio, diferente, por exemplo, de quem depende de um rim, que consegue ficar na lista de espera por cerca de 10 anos.
Mamografia 3D
Com poder de gerar dezenas de imagens da mama de diferentes ângulos, amamografia 3D ou tomossíntese da mama não foi desenvolvida com o objetivo de substituir a mamografia tradicional. Na verdade, seu uso deverá ser feito juntamente com o método convencional para que o médico tenha uma visão mais precisa da mama. O mastologista Alexandre Vicente de Andrade, professor da faculdade de medicina da PUC-SP, questiona, entretanto, se a evolução será de fato uma inovação. "A mamografia 3D apresenta mais que o dobro de radiação da mamografia tradicional, o que torna sua aplicação na rotina um tanto complicada", explica. Se, por outro lado, for usada para diagnóstico, quando o profissional desconfia de alterações, pode dar uma falsa segurança que descartará uma biópsia mais conclusiva. Assim, o especialista não descarta o método, mas acha que ainda faltam especificações para seu uso na detecção do câncer de mama.
Novo stent para aneurisma da aorta
Aneurismas são dilatações vasculares de uma artéria que precisam de tratamento por conta do risco de rompimento. O tratamento tradicional era feito abrindo o paciente e colocando uma prótese, espécie de caninho, para gerar uma nova rota de fluxo para o sangue. O problema é que essa intervenção nem sempre era viável. "Em alguns casos o procedimento de corte era contraindicado e, em outros, o aneurisma estava localizado próximo a outras artérias e a colocação da prótese bloquearia essas outras passagens", explica o cirurgião vascular Luiz Marcelo Viarengo, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular. Isso tudo porque a prótese tradicional era envolvida em um tecido especial que bloqueava os demais fluxos. Por isso, o surgimento de uma prótese que permite vida normal as demais artérias foi uma grande evolução. "A colocação dela ainda pode ser feita por cateterismo, o que torna o procedimento mais seguro e rápido", afirma. Entretanto, há controvérsias ainda sobre se a permeabilidade do fluxo sanguíneo para as demais artérias é 100% garantida.
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