Alimentos refinados: o consumo em excesso pode explicar a obesidade
O baixo consumo de fibras é mais prejudicial à dieta do que açúcar e gordura
Sempre que veiculamos as gigantescas cifras de obesidade no mundo, nós procuramos entender o que vem acontecendo com a nossa dieta para justificar números tão alarmantes. Independente da condição sócio cultural dos povos, o fenômeno da obesidade não poupa nenhum deles. Logo, deve estar havendo mudanças globais comuns que escapam ao olhar aguçado dos pesquisadores e estimulam o processo de ganho de peso em todo o mundo.
Já é consenso o conhecimento de que o sedentarismo da sociedade moderna seja um dos mais importantes fatores causais da obesidade. Crianças e adultos caminham menos e encontram nos botões dos controles remotos das novas tecnologias a solução de todos os seus afazeres. Crianças brincam mais com o cérebro e menos com braços e pernas, donas de casa nunca conseguiram tantas facilidades em seus afazeres, nas grandes indústrias, a robotização transformou o trabalho dos operários em atividades mais leves. Os executivos saem de um assento para outro, do escritório para o carro e desse para o sofá de suas casas e tem um gasto calórico diurno praticamente igual ao noturno. Isso tudo é sabido, mas não justifica a obesidade mundial.
Quando analisamos as mudanças nos hábitos alimentares da sociedade moderna que podem estar relacionadas ao avanço da obesidade, nós elegemos dois grandes vilões. O açúcar e a gordura. Justamente os dois mais saborosos componentes do nosso cardápio. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o açúcar de adição não ultrapasse 10% das calorias de uma refeição. Apesar disso, nos Estados Unidos as crianças consomem o dobro dessas recomendações. Os refrigerantes são os maiores contribuintes individuais dessa ingestão.
O açúcar, incorporado na maioria dos alimentos industrializados, leva a um consumo expressivamente alto desse ingrediente, causando um aumento das calorias das dietas com um poder de saciedade muito pequeno. O resultado dessa equação é sempre muito amargo e um dos responsáveis pela epidemia de obesidade e diabetes em todo o mundo, principalmente entre crianças e adolescentes. Mesmo assim ainda não se justifica a obesidade mundial. O nutriente mais criticado como o grande vilão da obesidade é sem dúvida as gorduras. Conhecemos bem todas elas. Gorduras boas e más não escapam da fama de engordativas. Porém os estudos indicam que o nosso consumo de gordura não tem sofrido mudanças significativas ao longo das ultimas décadas. Isso foi demonstrado recentemente em dois estudos epidemiológicos de grande porte, onde o consumo de gordura das dietas não foi associado ao sobrepeso e obesidade, nem com adiposidade corporal analisada através da pregas cutâneas. Dessa forma, as gorduras da dieta também não justificam a obesidade mundial.
Um fato que vem chamando a atenção dos estudiosos da obesidade é o progressivo refino dos alimentos consumidos em todo o mundo. Farinhas de trigo e arroz aparecem nos cardápios totalmente beneficiados e desprovidos de seus resíduos fibrosos. A questão é que esses são os ingredientes básicos da maior parte dos alimentos que adquirimos todos os meses nos supermercados. Estamos nos referindo às bolachas, massas, tortas, pizzas, pães e sopas. Associada a isso, a redução do consumo de frutas e vegetais impõe à dieta moderna o consumo de fibras próximo de zero. Isso pode revelar o potencial deletério do baixo consumo de fibras das dietas modernas em causar sobrepeso e obesidade, com impacto superior aquele imposto pelas gorduras e açúcar.
"Os alimentos industrializados refinados vêm aumentando. Associados a isso, a redução do consumo de frutas e vegetais que impõe à dieta moderna o consumo de fibras próximos de zero"Por que precisamos das fibras?

Vários estudos epidemiológicos têm demonstrado uma relação inversa entre o teor de fibras na dieta e o ganho de peso. Apesar do desenho de tais estudos não permitir a conclusão de casualidade da associação repetidamente demonstrada por eles, muitos países têm investido em mudanças no estilo de vida dos povos e um dos pontos comuns aos vários guias nutricionais é o reconhecimento da importância do consumo de fibras a partir de grãos integrais, frutas e verduras. Em 2005, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, pela primeira vez recomendou em seu guia alimentar o consumo de três porções de grãos integrais ao dia, com a alegação de redução do risco coronariano e manutenção do peso.

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