Já imaginou perder aquela gordurinha localizada que não sai nem com academia nem com reza brava, sem dor e sem esforço? Pois é isso que promote a criolipólise, novo tratamento que utiliza o congelamento para nocautear as células de gordura.
A criolipólise foi a sensação do 68º Encontro da Academia Americana de Dermatologia, realizado em março deste ano em Miami (EUA). Conhecida nos Estados como coolsculpting, o método já chegou ao Brasil, onde já é aplicado em algumas clínicas particulares.
O grande benefício da criolipólise é o fato de ser um método que não requer cortes, agulhas ou anestesia. “Este é o diferencial do procedimento: não é invasivo e destrói a célula", aponta a dermatologista Mariana Barbato. "Os procedimentos para gordura localizada que existiam até o momento apenas diminuiam a célula de gordura, sem destruir o
adipócito."
Outra vantagem é que o tratamento conseguiria alcançar as gordurinhas mais difíceis de serem eliminadas (até mesmo com lipoaspiração). “Abdome, flancos (pneuzinhos), parte interna das coxas e gordura das costas podem ser tratadas”. Além disso, não há o risco de aumento de gordura na circulação sanguínea, como acontece com alguns outros equipamentos, o que faria o procedimento mais seguro.
Como funciona
A criolipólise é feita através de um aparelho , que literalmente “mata” as células de gordura de frio. O tratamento elimina a gordura localizada logo abaixo da pele. O aparelho, com uma ponteira que é acoplada à pele, faz uma sucção dos tecidos e induz a um resfriamento controlado da gordura.
QUEM INVENTOU A CRIOLIPÓLISE
Foram os estudos dermatologista norte-americano Rox Anderson, da Escola de Medicina de Harvard (EUA), que deram origem à criolipólise. O dermatologista descobriu que as células adiposas são extremamente sensíveis ao frio, e que isso poderia ser uma arma eficiente no combate à gordura localizada.
A técnica foi testada em 1.200 pessoas nos Estados Unidos e na Europa com um desfecho promissor: a média de perda de circunferência foi de quatro centímetros por sessão. Os primeiros estudos foram realizados em porcos, em 2008, na cidade de Boston, e em setembro de 2010 a tecnologia foi liberada para uso em seres humanos pelo Food and Drugs Administration (FDA), agência governamental norte-americana que controla alimentos e remédios no país. A agência também determinou que um nível determinado de temperatura e tempo de exposição fossem estabelecidos para evitar queimaduras de frio ou qualquer outro risco.
Durante o tratamento, o equipamento ataca somente as células de gordura da região selecionada, sugando a gordura e resfriando a região a -10º C durante uma hora. A pele é protegida por uma película de gel durante a sessão.
A explicação para o processo é simples: as células de gordura são extremamente sensíveis ao frio, por isso, o resfriamento intenso e controlado ajuda a combatê-las."A baixa temperatura provoca a desagregação de gordura e danifica as células, que são eliminadas pelo organismo ao longo de, em média, dois a três meses”.
No início, o paciente sente como um puxão firme e um frio intenso, mas suportável, na região aplicada. Logo após, a sensação é de formigamento na região. Os especialistas garantem que essas sensações são suportáveis e passageiras, e que o paciente não sente dor durante, nem depois do tratamento.
Segundo a especialista, as células congeladas durante o procedimento são puxadas pelo aparelho através de vácuo e são interpretadas pelo organismo como células estranhas, sendo liberadas lentamente pelo sistema linfático e metabolizadas no fígado, sem comprometer seu funcionamento.
A recuperação da criolipólise é imediata (só fica uma vermelhidão no local tratado e um inchaço que pode durar até duas semanas) e os resultados podem ser percebidos em até dois meses após a primeira aplicação. “Em cada sessão perde-se cerca de 20% a 25% da gordura da região aplicada. O número de sessões varia de acordo com a espessura de gordura de cada uma e do resultado esperado pelo paciente. Mas a média de sessões são de duas a três por região”.
Os especialistas garantem que os resultados são permanentes – desde que o paciente tome cuidados para não voltar a engordar. A estimativa apresentada pela Academia Americana de Dermatologia é de que mais de 50.000 pacientes no mundo já tenham realizado esse procedimento. No Brasil, as clínicas calculam que uma faixa de 3.000 pessoas já passaram pelo procedimento.
Contraindicações
Apesar de ser um tratamento que promete revolucionar a área estética, a criolipólise não é recomendada para pessoas com sobrepeso ou obesas. Os especialistas alertam que o procedimento só é indicado para retirar gorduras localizadas em pessoas que estejam com o peso ideal, sendo utilizada para definir as linhas do corpo – e não para emagrecer.
Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade da Disciplina de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Além de pessoas obesas ou com sobrepeso, pessoas com diabetes, hérnia no local a ser tratado, urticária ao frio, crioglobulinemia (doença relacionada ao frio) e gestantes não podem realizar o tratamento. Pessoas com menos de 18 anos também não podem fazer a criolipólise.
Mas os especialistas apontam que as contraindicações são mínimas. “O mais importante é que pacientes com diabetes, problemas cardíacos ou com outras contraindicações para cirurgia podem fazer criolipólise”, declara Barbato. Mas alguns cuidados devem ser tomados, como respeitar o intervalo entre as sessões – que deve ser de seis a oito semanas – se for necessária mais de uma intervenção, e também que o cálculo de peso ideal seja feito corretamente e levado em consideração.
Os efeitos colaterais também são mínimos: vermelhidão, inchaço, pontos arroxeados e dormência da pele são comuns após o tratamento e são transitórios. Mas o que preocupa os especialistas é outro aspecto.“Esse tratamento, como tantos outros, oferece uma promessa de resultado milagroso que não depende dos esforços do indivíduo, atraindo os pacientes que costumam fazer uso de outros métodos sem validação (como ultrassons, fornos, massagens, etc.)”, aponta Mancini.
Falsas promessas
E por falar em resultados milagrosos, algumas clínicas estão “vendendo” a criolipólise com a promessa de eliminar a gordura visceral - aquela que fica entre os órgãos internos e pode levar a alterações metabólicas como aumento de glicose, triglicérides, problemas circulatórios e cardíacos.
Segundo os médicos, isso é impossível: “Para gordura visceral, apenas dieta e exercício [resolvem]. Nem mesmo a lipo retira”, explica Barbato, apontando que nenhum tratamento estético pode eliminar essa gordura - o que também seria muito perigoso, devido à sua proximidade com fígado, pâncreas, rins e até mesmo o coração. Felixe ressalta: “a criolipólise mão elimina a gordura visceral, só aquela mais externa, especialmente de regiões como abdome, flancos e a ‘gordurinha do sutiã’”.
O que os médicos enfatizam é que, apesar do respaldo da FDA , o tratamento ainda é muito recente. Difícil vai ser segurar o entusiasmo das pessoas que querem perder a gordurinha localizada.
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